As coisas mudam e os amigos partem, e a vida não pára para ninguém.
Haviam se conhecido aos cinco anos de idade e isso resultava em um total de doze anos completos em que se conheciam. O mais importante não era o tempo, pensou ele, na tarde quente de verão que fazia lá fora. O mais importante, no seu ponto de vista, era que durante todos esses anos, eles haviam permanecido os mesmos amigos que foram desde o primeiro dia que compartilharam os brinquedos na caixa de areia do parque. Superficialmente, nada havia mudado, e ele apreciava isso como quem ganhava uma medalha de ouro por merecimento. Sua irmã mais velha sempre lhe compartilhou a idéia de que uma menina e um menino não podem ser amigos – não só amigos, ela dizia. E talvez, refletiu, em algum ponto ele realmente tenha ultrapassado a linha dos sentimentos caracterizados como “amizade” em relação a ela. Mas fora um erro, porque ele percebeu que juntos, aquele coisa especial – ele não sabia explicar – entre eles se despedaçava. Ela era metade de seu mundo, alguém que passara doze anos de sua vida conhecendo-o – e ela conhecia, sem dúvida, ele por inteiro -, e ele tinha certeza de que hoje, neste mundo que chamava de seu, ninguém mais passaria doze anos conhecendo-o. Porque as pessoas se tornaram superficiais e tolas a ponto de pensar que amizade é dispensável, ele pensou melancólico. Mas eles se completavam, ou passaram a se completar ao longo dos anos, e aprenderam que aquilo era algo que poucas pessoas entendiam. Ela sempre teve pânico de dizer o que sentia, e ele nunca foi de sentir nada por ninguém. Mas nunca tiveram a necessidade de explicar. Mostrar à vida o que eles possuíam ali era como abanar uma bandeira vermelha a um touro; ela tiraria isso deles em um segundo. E, no entanto, ali ele estava, vendo-a partir como se fosse fácil e típico, normal. A distância, ele ouvira, podia ser cruel, e a história de que nada mudaria era papo-furado, tinha certeza. Tudo mudaria. Começando pelo pedaço de seu mundo que estaria do outro lado do país, e o pensamento de que ninguém a substituiria ou tentaria preenchê-lo por mais doze anos foi o grande soco em seu peito. Pensou nela e cogitou se ficaria bem. Era forte e tinha um coração de ouro, todos perceberiam de cara, aonde quer que ela fosse. Despedidas, no entanto, era algo que os dois aprenderam a não gostar, e nenhuma vez a palavra “adeus” fora pronunciada entre eles, mas ele sabia que tomariam caminhos diferentes agora e que ela mudaria lá - na cidade grande, enquanto ele permanecia intocado e preso no mesmo ponto em que ela o deixaria.
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